A greve na UNIPAMPA continua

17-08-2012 10:14

Assim como a quase totalidade das universidades e institutos federais no Brasil, também a UNIPAMPA decidiu continuar a greve, que completará três meses no próximo 17 de agosto. Segundo o Governo Federal as negociações estariam encerradas e o acordo assinado, estando ele (o governo) certo de que atendeu todas as reivindicações da classe docente. No entanto, o referido acordo foi assinado entre o Governo e um sindicato que representa apenas sete das 59 universidades federais, o PROIFES (Fórum dos Professores de Instituições Federais do Ensino Superior). Este acordo representa a maior afronta à carreira docente federal de toda a história deste país e está sendo "empurrado" pelo Governo e divulgado pela mídia especializada como sendo a última, definitiva e já aceita proposta.

A situação atual é que não há uma perspectiva de entendimento entre o sindicato que representa a maioria das universidades (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior - ANDES) e Governo. É importante colocar que o Governo demorou praticamente 60 dias para sinalizar alguma negociação; as duas primeiras reuniões foram canceladas pelo próprio, e depois, nas duas únicas reuniões com as representações sindicais, não houve diálogo sobre a proposta apresentada pelo ANDES, mas sim apresentação de propostas pelo Governo que apenas oferecem um falso reajuste salarial a ser feito até 2015 (e que não cobrem os desgastes da inflação), e IGNORAM as maiores reivindicações dos docentes: reestruturação do plano de carreira, melhoria das condições de trabalho, adequações estruturais e de pessoal condizentes com a expansão das universidades.

Com relação à proposta do governo, existe em vários pontos uma ameaça à perda da autonomia universitária, com a criação de normas específicas baixadas pelo Ministério da Educação a qualquer tempo. Além disso, os docentes vêem com grande temeridade a proposta para a criação da Certificação de Conhecimento Tecnológico, empurrada pelo "acordo" entre governo e PROIFES, que ameaça a formação e o crescimento, com risco de desestimular novos mestrados e doutorados. O Governo propõe, ainda, que todos os professores ingressem na carreira no mesmo nível e ganhando o mesmo salário, sem considerar se o mesmo tem mestrado ou doutorado - e sendo o salário do assistente (mestre) bem menor, isso certamente implicará na falta de bons profissionais com doutorado, pois esses irão preferir trabalhar em faculdades e empresas privadas em geral. Os docentes também não concordam com a proposta do Governo de oferecer retribuição por projetos institucionais e preceptorias, pois isso foi entendido como uma forma de privatização da produção científica, dando início a um processo que descaracterizará a dedicação exclusiva do professor, levando-o a trabalhar na universidade apenas para ministrar aulas (comprometendo projetos de pesquisa e extensão) e em empresas privadas como forma de agregar renda, prejudicando ainda o atendimento ao aluno fora da sala de aula.

O Governo e o PROIFES, com a atitude de ignorar o que a maior parte da categoria de professores defende como justo e melhor para a qualidade das universidades, assinaram um acordo patético, e ainda manipulam a mídia para desestabilizar o movimento. Além de se negar a negociar com a representação legítima, o Governo ameaça constantemente cortar o ponto dos servidores, fato que levou o Coordenador de Inovação Tecnológica do Ministério do Planejamento a pedir exoneração do próprio cargo por não concordar em cumprir tais orientações.

Ainda é interessante ressaltar que em nenhum momento da história tantas categorias de servidores federais cruzaram os braços numa tentativa de forçar uma negociação. Não se trata apenas de um movimento grevista isolado de docentes, mas sim de uma grande insatisfação do funcionalismo público diante das perdas salariais e das deprimentes condições de trabalho a que estão sendo submetidos. Em função disto, a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) informou que a própria Central Única dos Trabalhadores (CUT) e outros cinco sindicatos de servidores públicos protocolaram semana passada uma ação na Organização Internacional do Trabalho (OIT) contra as "atitudes antissindicais do governo" Dilma Rousseff. Esses sindicatos questionaram, em nota oficial, a forma como o governo está tratando as negociações com os servidores:

"Nosso objetivo é tentar retomar o diálogo. O governo tem se mostrado inflexível, afirmando que não tem como negociar porque não há recursos disponíveis. A principal preocupação está sendo o superávit primário. É uma opção política".

Através da imprensa, o Governo dá sinais de que vai esperar que o nosso cansaço acabe com a greve. Ou seja, o Governo está colocando a sorte de 650 mil estudantes no cansaço de professores grevistas, ao invés de sentar para negociar, como deveria ser em qualquer democracia. E enquanto os professores não se cansam de ficar parados, o Governo não parece se importar que todo este contingente de jovens estejam com suas vidas paradas.

Para nós, docentes federais do BRASIL, a aula que estamos dando hoje é sobre a luta por direitos e por valor à educação. Por uma UNIVERSIDADE PARA TODOS COM QUALIDADE, contamos com o apoio da comunidade itaquiense nessa luta para que o Governo se abra ao diálogo e finalmente negocie com os professores. Não queremos que nossos alunos continuem assistindo a essa aula de anti-democracia.

Comando de Local de Greve - Campus Itaqui

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