"Acordaram para o rock"

12-07-2013 16:58

Tita é uma figura conhecida em Itaqui, principalmente para os que têm o rock como preferencia musical. Onde estiver acontecendo um show, pode ter certeza que ele vai estar lá, prestigiando os músicos da cidade. É a sua paixão. Assim como a de muitos que levam o rock como um estilo de vida, como uma forma de libertação.
Falou de rock de Itaqui, uma das primeiras referencias que vem à mente é o Tita. Há décadas está nessa missão hercúlea de ajudar a dar mais visibilidade a essa expressão cultural, comumente um tanto relegada pela sociedade interiorana. Por trás de muitos festivais de rock da cidade, Tita conversa conosco, conta como que tudo isso começou e compartilha sua visão do presente e do futuro dessa manifestação cultural em Itaqui.

 


Quando começou o seu interesse pelo rock?
Tita - Desde a adolescência, em torno dos 13 a 14 anos, devido a minha família residir no Bairro Cohab e casualmente haver uma banda de rock lá, a OSD que ensaiava na casa que dava no pátio da minha residência. E meus pais faziam parte também, na época, em meados dos anos 1980, da diretoria do Clubinho da Cohab, aonde realizavam-se reuniões dançantes e lá o pessoal que sonorizava eram os músicos dessa banda e de outras, e frequentemente se juntavam e faziam apresentações ao vivo.
Lembra-se da música que escutaste que o marcou?
Tita - A que fez você perceber que era isso que gostava. Sim, "Camila, Camila", do Nenhum de Nós. Essa música me marcou e marca até hoje por ter sido meu primeiro vinil de rock, que a ganhei quando tinha 15 anos, junto com meu primeiro aparelho de som três em um. E por ter sido a primeira banda de rock que fez show aqui em Itaqui que tive o prazer de conhecer e conversar por longas horas com os músicos.
Na época da sua adolescência, o que mais escutava e de que forma isso chegava até você?
Tita - O rock gaúcho, sempre, e o rock nacional oitentista nacional (Titãs, Ultraje a Rigor, Garotos Podres, Legião Urbana). Devido a colocar como referência a banda vizinha e demais que ensaiam junto com ela e faziam as apresentações no bairro, volta e meia ia assistir ensaios e shows, e era presenteado pelos músicos com fitas k-7 das músicas que estes ouviam e tiravam para tocar.
Existiam bandas de rock em Itaqui?
Tita - Sempre existiram bandas de rock aqui, só que aqui vivíamos, digamos, em períodos de entressafra, ciclos, eram bandas que apareciam, bandas que terminavam... Em épocas se chegou a ter dez bandas, e em outras somente duas.
Quais bandas de Itaqui que tu lembras dessa época pra cá?
Tita - Olha, dos músicos que tiveram bandas da antiga, em meados de 1980 e 1990, o dinossauro e ícone que continua em atividade de geração em geração é o Eliseu Billy e depois cito outros músicos como, o Róis Aguiar, que na época teve banda em conjunto; o Cristiano Howes, que não reside mais aqui; e o poeta e letrista Paulo Cesar Limas, que de alguma forma  até hoje colabora.
Houve uma época em que a cidade proporcionava espaço e incentivava mais esse tipo de manifestação cultural?
Tita - Sim, os anos de 1980 e 1990 foram as épocas esplêndidas do rock em Itaqui. Pois, além da quantia de bandas, se tinha oportunidades em locais para tocar, como o Clube Caixeral (Boate Cascata), Cassino (Boate Scorpions), Clube do Comércio (Boate Joana Dark), Breed Club e depois diversos outros nomes (até o Point Zero). Depois, no começo dos anos 2000, vieram as festas de sonorizações da cidade (Gerasom, no Ginásio Castelão), Festivais como da RBS TV (Circuito de Rock), Domingo Alegre (show de calouros).
Itaqui chegou a receber bandas de rock de grande notoriedade?
Tita - Sim, muitas bandas passaram no Ginásio de Esporte Castelão, cito, desde clássicas da Jovem Guarda como Renato e Seus Blue Caps e Os Incríveis; o rock gaúcho do Engenheiros do Hawaii, TNT, Nenhum de Nós; e até o rock nacional do RPM.
Quais shows que tiveram mais destaque nessa época?
Tita - Que mais me marcou. Para mim um show de destaque foi o Engenheiros do Hawaii. Mas o que mais me marcou foi o TNT em um de seus últimos shows que teve sua formação clássica com o Charles Master e o Flávio Basso (ex - TNT, Cascavelletes) juntos no palco.
Porque você acha que isso praticamente acabou?
Tita - Porque a mídia em geral, esqueceu-se do rock e da boa musicalidade cultural. Perderam-se as essências, as raízes. Hoje, o povo prefere qualquer coisa que a televisão, o rádio e as revistas dizem que é legal. E o rock também perdeu um pouco seus lideres: foi-se o Renato Russo, foi-se o Raul Seixas. Letristas e cidadãos brasileiros diferenciados, polêmicos, e em sua maioria incompreendidos e repreendidos pela sociedade.
Quando e por que surgiu a vontade de organizar festivais de rock?
Tita - Devido a carência de shows, que foram no decorrer dos anos se escasseando em Itaqui. Também, devido as bandas estarem se sentido exclusas da sociedade, por falta de oportunidades e espaço para mostrar seus talentos, e por fim, para resgatar um passado de glória.
Itaqui teve bastantes encontros?
Tita - E quais tiveram maior êxito? Sim, Itaqui teve vários festivais, o próprio Róis organizou alguns quando possuía banda. Eu fiz vários festivais de rock, com várias parcerias, tais como Movimento Pro Rock, Cine Rock, entre outros. Somente o Rock de Rua, que estou retomando a realizar, conseguiu, digamos, uma longa vida: cerca de três anos, em várias edições anuais. Olha, todo o festival por ser de rock e quase de forma "faça você mesmo", meio que independente, sem grandes incentivos, infraestrutura e apoio, pra mim já é visto como um êxito, pelo desafio que é fazer isso em nossa cidade.
O que é mais difícil ao organizar um festival em Itaqui?
Tita - Até hoje, o difícil é você conseguir local, apoio do empresariado, dos meios de comunicação, dos clubes e bares sociais, ainda se consegue um pouco, parcerias com executivo e legislativo (vereadores e prefeitura, através de secretaria de cultura e de turismo).
Tu tens vontade ainda de organizar esses encontros?
Tita - Sim, estou organizando o Rock de Rua, (a próxima edição acontece domingo, dia 14 de julho) e sou voluntário a somar-me e colaborar com o que venha a potencializar a cultura em Itaqui.
Tu achas que o poder público está voltando a valorizar eventos culturais?
Tita - Que iniciativas recentes que podem ser citadas nesse aspecto? Sim, acordaram para o rock, e começaram de certa forma dar valor e espaço como vem sendo há tempos dado a outros segmentos de cultura musical. Exemplos são: o próprio Rock de Rua, que chegou a fazer em outras edições parte comemorativa do aniversário de 150 da cidade; a Semana da Cultura, que teve espaço para bandas de rock; o projeto Musicultura, que tem lançado novos talentos do rock itaquienses.
O que falta para Itaqui ter mais opções culturais?
Tita - Acho que falta incentivo e abertura, como antigamente, dos bares, dos clubes, e, principalmente, um palco (concha acústica) para apresentações, não somente de rock mas de todas as vertentes da musicalidade itaquiense. Também faltam projetos para essas iniciativas culturais de rock serem inclusa, a exemplo de outros (Festival de Música para o Carnaval, Festival da Casilha da Canção Farrapa...) dentro do calendário oficial de eventos do município, a fim de termos como certo eventos de rock anuais.

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